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Antes de mergulhar em uma estratégia de marketing infalível que depende quase que exclusivamente da presença constante nas redes sociais, reserve um momento para fazer uma avaliação cuidadosa. Considere se essa abordagem realmente se alinha com seus objetivos de marketing, seu negócio e, mais importante, com sua qualidade de vida.
A visão crítica que tenho em relação às redes sociais é conhecida por quem me acompanha. No entanto, neste momento, não vamos aprofundar o debate sobre como as redes sociais influenciam nossas escolhas e impactam nosso comportamento a nível cerebral. Em vez disso, gostaria de explorar a questão de como muitos empreendedores individuais no Brasil estão presos em um relacionamento tóxico com as redes sociais e, o que é ainda mais importante, como sair dessa situação.
O que caracteriza um relacionamento tóxico?
Conforme definido neste artigo, um relacionamento tóxico é aquele que nos faz sentir desamparados, incompreendidos, humilhados ou atacados. Trata-se de uma relação que ameaça nosso bem-estar, seja de forma emocional, psicológica ou até mesmo física.
O início desse relacionamento com as redes sociais eu conheço muito bem. Você decide empreender, e a primeira coisa que lhe vem à mente é criar uma presença em uma ou em todas as redes sociais. Isso acontece porque você foi condicionado a pensar assim, é o padrão da era digital.
O que se segue é uma história de paixão avassaladora que, em alguns casos, beira a obsessão. Você se lança de cabeça nesse relacionamento, com um desejo insaciável de aprender tudo sobre as redes, entender seu funcionamento, testar ideias e, quem sabe, viralizar.
Você fica imerso em um estado de euforia e, ao mesmo tempo, de desânimo, alimentando uma empolgação inicial que se assemelha ao início de um relacionamento.
Com o tempo, você começa a perceber que esse relacionamento não é recíproco e equilibrado como deveria ser.
Nas conversas com empreendedores, quando o tema são as redes sociais, predominam sempre os sentimentos negativos:
“Eu tenho ranço”
“Eu só faço isso porque preciso de clientes.”
“Se pudesse, desapareceria das redes para sempre.”
No seu TED Talk, Tara McMullin, escritora, produtora e podcaster, aborda com precisão essa sensação de pressão:
“Imagine se o seu sustento dependesse exclusivamente do que você posta diariamente no Instagram, dos vídeos engraçados no TikTok, dos vídeos no YouTube, da newsletter semanal, das conexões no LinkedIn e das transmissões ao vivo no Facebook, tudo isso para agradar um algoritmo. Essa realidade é sombria e é a experiência de muitos empreendedores hoje. A constante pressão para criar conteúdo não atende às necessidades individuais, ao contrário, gera instabilidade, especialmente quando as plataformas alteram constantemente suas regras. Além disso, o fato de qualquer comentário negativo ou uma denúncia poderem destruir o que foi construído intensifica essa corrida incessante, reproduzindo o mesmo sistema que nos leva ao esgotamento. Estamos sempre produzindo, tentando ser valiosos para não ficarmos para trás.”
Tóxico.
O mais intrigante é que, mesmo conscientes disso e sentindo emoções negativas, muitos continuam acreditando que precisam postar a qualquer custo, como se a culpa por não obter resultados fosse deles, por não estarem constantemente presentes nas redes sociais.
Precisamos mudar essa realidade.
A seguir, vamos identificar os sinais de um relacionamento tóxico com as redes sociais e explorar maneiras de construir uma relação mais saudável:
Sinal#1: Você dá mais do que recebe, o que faz você se sentir desvalorizado e esgotado.
Quantos de nós prometemos postar diariamente e criamos agendas de conteúdo na esperança de obter resultados?
Quando você está em um relacionamento tóxico com as redes sociais, grande parte de sua energia é direcionada para a criação de conteúdo, principalmente para atender às tendências e, assim, alcançar um maior alcance e visibilidade.
A pressão para postar constantemente gera um sentimento de culpa porque você não consegue cumprir essa demanda. Mesmo produzindo conteúdo em grande quantidade, percebe que não consegue acompanhar a velocidade do algoritmo. A busca frenética por fazer o que precisa para agradar o algoritmo, faz você se tornar um “especialista em táticas de marketing digital” desviando sua atenção do que realmente deseja e ama fazer
Como sair desse ciclo?
O primeiro passo é se conscientizar de que, nas redes sociais, seu esforço máximo nunca será suficiente. E não por culpa sua mas sim porque as empresas que gerenciam essas plataformas projetaram seus modelos de negócios de forma a garantir que você não tenha um retorno proporcional ao seu esforço, fazendo com que você sempre precise investir mais tempo e mais recursos.
Por isso é importante considerar alternativas que te tornem menos dependente das redes sociais. Esse é um processo que requer autoconhecimento e uma mudança de foco em atividades onde seu esforço possa ter um retorno mais significativo, como estabelecer conexões e estar presente em eventos relevantes.
Sinal#2: Você se sente constantemente desrespeitado ou que suas necessidades não estão sendo atendidas.
De repente, e sem explicação, as pessoas deixam de ver seus posts no feed delas. Ou sua conta é banida porque você gerou alguma polêmica ou porque as regras da plataforma mudaram sem prévio aviso.
Em um relacionamento tóxico, apenas um lado dita as regras, e no caso das redes sociais, as regras são estabelecidas por uma minoria.
Além disso, as empresas por trás das redes não fazem questão de tornar as regras transparentes para os usuários e menos ainda em incentivar que os usuários tenham espaço para ações que realmente promovam mudanças, crescimento de seus negócios individuais ou compartilhamento de ideias.
O respeito é escasso, e suas necessidades são frequentemente ignoradas.
Como resolver isso?
Encare as redes sociais como uma ferramenta adicional para divulgar suas ideias e seu negócio. É importante estar presente nas redes, pois as pessoas gostam de confirmar que sua empresa e serviço existem, mas não coloque todo o peso de seu sucesso nesse único canal. Em vez disso, procure maneiras inovadoras e fora das redes para se destacar. Pergunte a si mesmo: O que eu faria se não fosse necessário postar no Instagram? Que outras ações são possíveis para mim? O que de fato eu gostaria de fazer para divulgar meu trabalho? São perguntas que podem guiar sua mente para novos lugares e novas possibilidades.
Sinal#3: Você não é você mesmo quando está nas redes.
A mudança faz parte da natureza humana, e em muitos casos, é positiva. Mas e quando você muda só para agradar o outro, no caso aqui, a vitrine das redes sociais?
Sabe aquela coisa que você acha que tem que fazer quando liga a câmera e depois fica com ressaca moral?
Eu acredito que todos nós precisamos de algum filtro para “aparecer” nas redes.
Mas existe um limite e esse limite tem a ver com saúde mental.
O quanto você se sente confortável fazendo sua versão instagramável? O que está em jogo quando você decide ser essa outra pessoa? Quando alguém te diz que você precisa falar de outro jeito ou mostrar partes da sua vida que não quer mostrar e você muda, qual o sentimento que emerge?
Ter uma vida instagramável e ser uma pessoa instagramável pode gerar um estrago enorme na sua saúde mental.
Tem gente que nasceu pra isso – Hello Kardashians! Mas tem gente, como eu, que se incomoda muito de ter que mudar tanto para ser mais popular nas redes.
Como mudar essa dinâmica?
Tristan Harris disse: “Somos todos vulneráveis à aprovação social. A necessidade de pertencer, de ser aprovado ou apreciado pelos nossos pares está entre as maiores motivações humanas. Mas agora a nossa aprovação social está nas mãos das empresas de tecnologia.”
É a vontade de pertencer que nos leva a mudar quem somos para sermos aceitos. É o nosso cerebro dando o aviso: Olha, se você quer fazer parte disso aqui, precisa fazer isso aqui! E aqui de novo existe uma padronização estimulada pelas empresas de tecnologia.
Mas não precisa ser assim.
Se você tem sentido muita ressaca moral de estar fazendo um monte de coisas nas redes que não tem nada a ver com você, comece parando de fazer isso.
Tente se lembrar que do outro lado da tela existem sim pessoas como você, que vivem uma vida normal e que podem estar buscando tanto entretenimento quanto uma solução para uma situação que estão passando.
Lembre-se também que as pessoas que vão se interessar pelo seu trabalho não estão nas redes para julgar sua vida ou suas escolhas. Elas estão em busca de se conectar com alguém que pensa, acredita e vive como elas e que sabem resolver essa situação que elas se encontram. Por isso ser você é o melhor marketing que você pode fazer dentro das redes sociais.
Sinal#4: Dependência
Em um relacionamento tóxico há dependência do outro, tanto financeira, emocional ou física. Quando você dá sinais de que vai cuidar de si, o outro detesta e tenta manter você sob controle. E por vezes, o outro faz você acreditar que não tem capacidade para realizar seus planos.
Está aqui no parágrafo anterior, sem tirar nem por, o que as empresas de tecnologia vem fazendo com a humanidade. Estamos e somos dependentes das redes. Seja para enxergar a nós mesmos pelo olhar dos outros, seja para ganhar dinheiro ou simplesmente para nos distrair das preocupações do dia-a-dia.
Como superar a dependência das redes sociais?
O primeiro passo é reconhecer que você está dependente das redes e que se libertar dessa influência requer um esforço significativo. Se concentre em alternativas fora desse ambiente, como estabelecer conexões pessoais, dar entrevistas em podcasts e participar de eventos, ministrar palestras, escrever artigos aprofundados sobre sua área de atuação e dar aulas, workshops e oficinas. Faça das redes sociais um complemento em vez de uma necessidade.
Em resumo, é fundamental reconhecer e refletir sobre o relacionamento muitas vezes tóxico que muitos empreendedores individuais no Brasil mantêm com as redes sociais. O entusiasmo inicial de mergulhar de cabeça nesse universo muitas vezes se transforma em uma dependência prejudicial, onde a incessante pressão para produzir conteúdo em conformidade com os algoritmos das redes acaba minando a saúde mental e o bem-estar.
E aí? Você sente que está em um relacionamento tóxico com as redes sociais?
Os sinais de um relacionamento tóxico com as redes sociais são evidentes: o esforço constante para criar conteúdo, a sensação de desrespeito e a mudança de que se é para agradar as redes. Mas é possível mudar essa realidade entendendo que as redes sociais não são a única forma de crescer e a busca por alternativas fora dessas plataformas podem diminuir a pressão e restaurar a saúde mental.
É hora de reavaliar sua relação com as redes sociais e encontrar um equilíbrio saudável entre seu marketing e sua vida.
A busca por uma abordagem mais consciente e leve, sem se sentir preso à obrigação de postar constantemente, é o caminho para um relacionamento mais saudável com o marketing e as redes sociais.
Conheça o Slow Marketing e como essa abordagem pode trazer alternativas viáveis para o seu marketing. Agende seu bate papo e vamos entender seu momento!
Muito bem colocado Ana. Eu gosto muito de escrever e criar imagens, então a postagem nas redes sociais para mim é um exercício que ajuda a pensar. Mas isso é bom até a página 2. Realmente me identifico com o que você diz sobre não ser uma relação de duas mãos. Fico pensando se as pessoas que colocam Like nos meus posts ou lêem as minhas newsletters serão de fato clientes do meu trabalho. E agora estou pensando nisso que você coloca: como em 2024 posso planejar ações que vão mais diretamente nos meus possíveis clientes. E esta é a charada. De alguma forma as redes sociais são uma saída “cômoda”. Mas eu quero pensar de forma mais estratégica para o próximo ano, fora das redes.
Ei Ana! Esse é um assunto muito importante de ser abordado! Eu mesma dei um tempo do instagram porque estava me sentindo esgotada mentalmente de ter que ficar criando postagens, criar engajamento etc. Percebo que, no meu caso, as redes funcionam apenas como um lugar onde as pessoas vao para me conhecer um pouco mais, antes de contratar um serviço. No momento, meu desafio é falar ao vivo abertamente com as pessoas sobre o que faço e como posso ajuda-las, sem me sentir constrangida, pois minha timidez para isso é grande. Bjs!!!!
Super interessante, Ana!
Ficar dependente das redes sociais é prejudicial – convém, sim, utilizar as redes como uma ferramenta de marketing, com moderação sem Ego!
Adorei a analogia! E quero reforçar que minha relação com as redes sociais só se tornou mais leve depois de conhecer você e o Slow Marketing. Prefiro um caminhar mais leve e constante, do que querer surfar em ondas e não ter energia para manter isso depois. Ótimo artigo!
Este assunto é o assunto de um milhão de dólares, ou melhor, corrigindo, assunto de quem busca paz no coração rsrs
Minha maior frustração é ainda estar preso nessa dependência de redes sociais, sem ter resultados nem perto de serem sustentáveis e mesmo após anos de tentativa ainda não ter 100% clareza de como alcançar o público que necessita de meu trabalho.